Relato do ato Fora Temer e da brutalidade da PM do estado de SC (02/09/16)

Por Mariana Rosa, Jornalista, via Facebook.

A conduta da Polícia Militar de Santa Catarina durante o ato de ontem na ligação da Crispim Mira com a avenida Mauro Ramos foi de uma irresponsabilidade sem tamanho que poderia ter terminado em tragédia.

Um apelo aos colegas jornalistas que trabalham nas redações da cidade: apurem esta história mais a fundo. Entrevistem quem estava presente, questionem o comando da PM e a Secretaria de Segurança Pública: por que impediram o acesso a avenida beira-mar norte, às 21h, em uma noite sem trânsito nenhum? Por que avaliaram que seria uma boa ideia encurralar milhares de pessoas em uma rua estreita como aquela, lançando na direção delas várias bombas de efeito moral? Por que impediram a dispersão pela rua Ferreira Lima, que era o ponto mais próximo dos manifestantes que ainda estavam lá?

Aqui o meu depoimento sobre ontem:

Acompanhei a manifestação desde o início até este ponto. Milhares de pessoas chegaram na rua Tenente Silveira (estima-se que eram entre 7 e 10 mil) após sair da alfândega e passar pelo calçadão. Neste momento eu era uma das últimas, perto de mim várias famílias com crianças acompanhavam a caminhada, entre elas este pai com o menino na bicicleta da foto que postei ontem.

Seguimos até a avenida Rio Branco, negociando o trecho com a polícia a cada nova rua. Chegando na Praça dos Bombeiros, houve uma pausa, todos sentaram e houve um jogral (que todo o grupo que estava mais no final, como eu, não conseguiu ouvir). Levantamos e seguimos pela rua Crispim Mira em direção a avenida Mauro Ramos. Alguns minutos depois já era possível ver lá de cima da rua policiais na Mauro Ramos lançando jatos (que eu acho que eram de spray de pimenta). Em seguida, um foco de fogo e confronto entre a polícia e algumas pessoas que se destacaram do grupo, enquanto todo o resto seguia parado aguardando a liberação do caminho.

Como bem relatou o colega Kadu Reis na cobertura ao vivo pela CBN, o grupo que revidou/atacou (há relatos divergentes sobre quem começou, eles ou a polícia) era muito pequeno em relação ao total dos milhares de manifestantes que seguiam concentrados na Crispim Mira. E o que aconteceu a partir daí? A polícia jogou diversas bombas de efeito moral na nossa direção, estando todos nós amontoados em uma rua estreita como aquela. Quem estava já na Mauro Ramos tinha como sair pela Hercílio Luz (algumas pessoas fizeram isso), mas para quem estava mais ou menos na metade da rua (o que era a maioria das pessoas, e eram muitas mesmo após a dispersão de cerca de metade) a saída mais próxima era um acesso lateral (a rua Urbano Salles) para a rua Ferreira Lima.

Este acesso estava bloqueado por uma fileira de policiais que ameaçavam quem tentasse se aproximar. Vi cerca de quatro pessoas correndo abaixadas com as mãos pra cima e eles, apontando as espingardas de bala de borracha, gritando que deveriam se afastar. Bombas continuavam sendo lançadas na Crispim Mira e houve muitos momentos de pânico, as pessoas correndo de um lado para o outro. Alguém poderia, certamente, ter sido pisoteado. Por sorte e empenho de pessoas que acalmavam o grupo pedindo para não correr e manter a calma, isso não aconteceu.

Fiquei em pânico com a possibilidade de uma tragédia ali (o fogo continuava na Mauro Ramos, bastante próximo ao posto de gasolina), decidi ir embora do jeito que desse. Ainda havia muito gás e correria na Crispim Mira, caminhei pela calçada dessa rua lateral em direção a Ferreira Lima de mãos dadas com meu pai, que havia me encontrado na manifestação minutos antes do início da confusão lá embaixo. Chegando perto dos policiais (havia um espaço entre a barreira deles e a calçada) o que estava na ponta apontou a espingarda pra gente e disse que não podíamos ir por ali, a gente podia passar, mas tinha que ir em direção ao outro lado. “Anda, vai logo!”, gritou ele ainda com a espingarda levantada. Antes, durante a travessia até a barreira, moradores de um prédio da rua jogaram cebolas na nossa direção e nenhum policial repreendeu, apenas observaram.

Passada a barreira deles, vi, na esquina da Ferreira Lima, um policial sem espingarda que olhava a cena na Crispim Mira com o que me pareceu ser perplexidade. Andei até ele e fiz um apelo pra que liberassem aquele acesso a todos, já que havia ainda milhares de pessoas ali e a rua era estreita demais para dispersar com todas aquelas bombas gerando correria. Antes que ele pudesse responder, outro policial (armado e de máscara preta) interrompeu e disse, entre outras coisas, que eu precisava selecionar melhor minhas companhias.

Dei a volta na quadra e voltei para a Praça dos Bombeiros pra ver se alguém precisava de ajuda. Quando cheguei lá os manifestantes subiam a Crispim Mira caminhando, a maioria com as mãos para cima, muitos chorando. Em seguida, mais bombas (ouvi pelo menos três) fizeram que todos recuassem e voltassem correndo pela praça. Corremos também e, em seguida, fomos embora. Não me machuquei em nenhum momento, mas desci a praça chorando, perplexa com o desfecho de uma manifestação que começou tão bonita.

Em todo o caminho até esse ponto da confusão, não vi lixo ser queimado nem depredação – o “vandalismo” se limitou a pichação, o que eu não considero violento de nenhuma forma. Na volta vi que em toda a Hercílio Luz havia lixo queimado, assim como em outras ruas do centro por onde a passeata não esteve. Ouvi relatos de que após o confronto um grupo pequeno que estava na manifestação saiu queimando tudo.

Evidentemente, eles não me representam. Nem aos milhares que tomaram a Tenente Silveira como vemos nas fotos históricas que estão circulando aqui.

A polícia tem uma campanha que diz algo como “Apoie quem te protege”. Eu digo: Proteja quem luta pelos nossos direitos. #maisamorporfavor#semviolência #ForaTemer #DiretasJá

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