Por Marcel Moreira
O filho da puta
O filho da puta é um puta dum filho de baixa conduta
Criado no lixo, sem endereço fixo e com mulher prostituta
Metido no vício, marginal de vocação, sem empregado e nem patrão
Deitado na marquise, falando sozinho em seu mundo ilusório
De olhos pesados, dopados, vidrados, tristes
Pela pinga barata sorvida como se fosse uísque
Medroso de dia, corajoso sob a lua
Escarrado quando sai o sol, aparecido quando a noite cai
Sem direito a voto, nem visto, nem veste, nem voz
Sobrevivente de aborto, rubéola, sarampo, cheio de piolho
Coxo de uma perna, anda sem bengala e é cego de um olho
Cheirando a urina e com resto de fezes embaixo da unha comprida
Por amigo um cachorro
Por inimigo, quase todos
Anestesiado de dor
Tem cheiro de morte e tristeza
Tem um pouco de homem
Tem um muito de fome
Tem dias que ele dorme
Tem dias que ele some
E volta danado com Deus
E deita-se em frente à Igreja pra gemer de solidão
O filho da puta é um puta dum filho de baixa conduta
Que ninguém ensinou o que é certo ou errado
Sobrevivente de aborto e abortado do povo
O último de todos, puxado com rodo
Humilhado na terra, não faz a mínima idéia
De que a justiça divina, por demais esquisita
Diz que o céu o espera…