Pra não dizer que não falei das flores. Parte II

Quando vejo o que estamos passando hoje parece que se passa um filme na minha cabeça, com cenas do que aconteceu em junho de 2013.

Na época os protestos contra a tarifa do transporte coletivo ocorreram puxados pelo Movimento Passe Livre e começaram em São Paulo. A grande mídia evitava mostrar imagens que dessem a dimensão de quantas pessoas estavam nas ruas, faziam closes que induziam as pessoas a acharem que se tratavam de “meia duzia de pessoas”. Quando a PM reprimia, usavam sempre a palavra “confronto” e davam sempre destaque para as vidraças de agências bancárias quebradas, pichações e depredações em geral.

Até que a repressão policial chegou a um ponto tão alto que foi impossível esconder. Jornalistas foram feridos, um deles perdeu um olho com uma bala de borracha da PM. Muita gente se feriu. A coisa explodiu no Brasil todo. E a mídia, aproveitando que o governo no poder não era do seu clube, resolveu mudar a narrativa e chamar as pessoas para as ruas.

Imediatamente as Policias sossegaram. Na mídia as imagens passaram a ser áreas, mostrando a massa. Nunca me esqueço de ter cruzado a pé junto com outras milhares de pessoas a ponte aqui em Florianópolis numa tranquilidade jamais vista em qualquer manifestação de rua que participei.

As manifestações passaram a ser uma geleia difusa de todas as pautas possíveis. Tod@s queriam levar sua pauta para a rua. Havia um grande desejo de mudanças positivas: reforma politica, combate a corrupção, passe livre, melhores serviços públicos.

O governo federal e setores partidários da esquerda se fecharam num casulo, subiram num pedestal e deixaram as manifestações serem engolidas pelas pautas da direita, que começou a se organizar naqueles dias (MBL, Revoltados Online etc). Os movimentos autônomos, com medo, também tiraram o time de campo, mostrando uma certa limitação das pautas mais especificas.

2016 é um tanto diferente mas guarda algumas semelhanças. Novamente a mídia dá destaque para os atos de depredação apenas. A repressão policial é intensa e o próprio Golpísta Mor, Temer, fala em meia duzia de pessoas quebrando tudo. Tentam novamente esconder que milhares de pessoas já foram as ruas em dezenas de cidade do país.

A diferença é que agora a mídia está ao lado do governo. Só vão mudar a narrativa se a coisa sair do controle de vez. A diferença também é que o país está mais dividido do que nunca. Nos últimos anos sentimos um crescimento muito grande do ódio politico, de movimentos de inclinação fascista com ídolos com representação politica no congresso.

Também temos como diferença uma união das esquerdas, partidárias ou não contra um inimigo comum: Temer, que simboliza o golpe e a retirada de direitos. Aglutinando pautas libertadoras com a LGBT, feministas, e a luta pela ampliação dos direitos sociais e contra a repressão policial.

O que vai ser de tudo isso só depende da gente. Nas ruas, nos locais de trabalho, em nossas famílias. Debater, se organizar, ir pra rua, ir para luta.

Com a primavera nos dentes e rebeldia nos nossos corações!

“Quem tem consciência pra se ter coragem
Quem tem a força de saber que existe
E no centro da própria engrenagem
Inventa contra a mola que resiste

Quem não vacila mesmo derrotado
Quem já perdido nunca desespera
E envolto em tempestade, decepado
Entre os dentes segura a primavera”
Primavera Nos Dentes – Secos & Molhados

 

20160904_141808

Um comentário em “Pra não dizer que não falei das flores. Parte II

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *