Quatro mulheres

 

Anita nasceu na serra no final dos anos 20, descendente de imigrantes Italianos trabalhava desde criança na venda ou no campo. Como oficio aprendeu a costura, como arte o crochê. Já “velha” para casar, conheceu um homem que por ela se apaixonou. Casamento? foi firme: só quando terminasse o curso de costura. Teve cinco filhos, que criou com disciplina e uma certa dureza. Teve salão de baile, cozinhou e costurou muito. Perdeu um filho muito jovem num acidente, e o companheiro, de melancolia, poucos anos depois. Ajudou a criar os netos, fez crochê para toda a família, cuidava da sua casa com orgulho. Viveu longos anos, sempre carregando no semblante um olhar altivo. Morreu com Alzheimer. Poucos dias antes de morrer, em um lapso de lucidez, disse ao neto mais novo “Lembra sempre de mim”.

Cora é filha de Anita. Seguiu o caminho dos estudos, com apoio de seu pai que lia muito e que acreditava em um mundo mais igualitário. Trabalhou na venda de um tio, onde aprendeu finanças. Se tornou Professora, acreditava que o conhecimento podia mudar o mundo. Viajou para longe, onde trabalhou em projetos sociais nos rincões do país. Se mudou para uma pequena cidade do interior e por lá montou um Jornal e uma Gráfica com os irmãos. Se apaixonou, mas não teve filhos. Perdeu seu grande amor em um acidente. Se formou em Jornalismo muitos anos depois de já exercer a profissão. Participa de um grupo de mulheres lideres e tem como legado o Jornal que criou, referência para a região e influência para as mulheres da família que decidiram seguir o rumo da tia.

Rosa é irmã de Cora. Saiu de casa com 12 anos e foi trabalhar na casa de um médico como babá da família. Sonhava em ser médica pediatra. Foi para a capital trabalhar na maternidade como recepcionista, para pagar o cursinho. Não passou no vestibular, mas descobriu que seu talento estava nas vendas. Vendia enciclopédias e revistas. Vendia tanto que ganhou um prêmio de melhor vendedora do país da editora para qual trabalhava. Se apaixonou e vivia uma vida nômade com seu companheiro. Gostava de independência e de praia. Teve um único filho. Montou uma empresa. Foi a primeira mulher a correr de carro no autódromo internacional da cidade. Tinha uma postura dura, as vezes até autoritária. Tinha que ser forte num mundo feito para homens, não podia demonstrar fragilidade, tanto é que todos a chamam de “Dona”. Criou seu filho com muito amor, mesmo com o pouco tempo que lhe sobrava. Se separou. Vive sozinha e mantém a empresa até hoje.

Ada era a única filha numa família de dois irmãos mais novos. Gostava de estudar e se interessava por informática. Quando criança, ganhou um computador de presente do seu pai. Trabalhou no comércio com 16 anos, queria independência e fazer faculdade de computação. Fez curso técnico em informática, onde ganhou a placa de melhor aluna. Queria trabalhar como programadora, mas todas as vagas de emprego diziam “somente homens”. Não tinha tempo para trabalhar e estudar, e deixou de lado a faculdade por um tempo. Trabalhou em uma empresa na área de suporte, onde se tornou gerente. Começou a fazer faculdade e comprou um apartamento próprio. Foi morar com o companheiro e nunca morou no apartamento que comprou. Queria ser programadora, largou o cargo de gerente para estagiar. Estagiou e se tornou uma programadora. Aprendeu a dirigir, algo que tinha muito medo, nutrido por muitos homens ao longo da vida. Depois que aprendeu, ensinou sua tia a dirigir. Era uma referência para a família. Se separou. Viajou de férias. Voltou e morreu meses depois num acidente de carro, muito jovem e talvez no melhor momento de sua vida.

Histórias de mulheres brasileiras e “comuns”, guerreiras de diferentes gerações. Um mundo onde ainda é necessário um Dia Internacional da Mulher.

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *